Protestos por mais recursos para as universidades: na Alemanha também tem

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Eu sei que é notícia velha, mas faltou tempo para postar isso antes. Espero que me perdoem, ó, caros leitores.

A Uni Tübingen praticamente parou durante algumas horas da ensolarada quarta-feira passada, dia 21 de maio. A manifestação teve como objetivo protestar contra o corte no orçamento dedicado às universidades no estado de Baden-Württemberg e foi organizada com o apoio da própria reitoria. Entre 15h e 17h, aulas foram interrompidas, alunos foram liberados e até mesmo a biblioteca ficou fechada durante três horas, tudo para estimular a participação tanto dos estudantes quanto dos docentes.

Com direito a carro de som, a passeata foi até o centro histórico da cidade e voltou à Neue Aula, prédio da faculdade de Direito, durando pouco mais de duas horas no total. Segundo estimativas generosas da polícia, mais de 4000 pessoas, entre estudantes e funcionários da universidade, participaram da caminhada, que partiu da Neue Aula, prédio da faculdade de Direito, passou pelo centro histórico, teve discursos na praça central em frente à prefeitura. O ato foi assunto na mídia local, com reportagens a respeito sendo publicadas tanto no jornal Schwäbisches Tagblatt quanto no blog neckarSTUDENT, do qual eu participo. As informações aqui contidas são uma mistura dos textos publicados nestes dois veículos. Vamos aos fatos.

O reitor Bernd Engler avisou das consequências do número crescente de estudantes no estado de Baden-Württemberg: “Anos atrás trabalhávamos com a previsão de um aumento de 40 mil a 50 mil novos estudantes de primeiro semestre no estado. No entanto, este número aumentou para 70 mil e isso significa uma sobrecarga pesada para a universidade. A maioria dos cursos trabalham com uma sobrecarga de 140%, 150% e as coisas não podem continuar assim.”

A massa reunida em frente à Neue Aula

A massa reunida em frente à Neue Aula

De cabeça, me lembro de dois motivos para o aumento no número de estudantes: o fim do serviço militar (ou ano social) obrigatório há cerca de três anos e a diminuição de um ano no tempo escolar (que fez com que o dobro de alunos concluíssem o colégio em um ano). Além disso, desde 2012 os estudantes não precisam pagar taxas à universidade, que antigamente custavam cerca de 500 euros por semestre.

Segundo o Tagblatt, foi a maior manifestação estudantil em Tübingen desde 1976, quando 12.500 estudantes foram às ruas. O Solidarpakt III (Pacto Solidário III) proposto pelo governo estadual, composto por uma coalizão entre os Verdes e os Social-Democratas, prevê cortes de 10% no orçamento para as universidades do estado inteiro, sendo que este orçamento já não é reajustado desde 1997 (fonte: http://www.jungewelt.de/2014/05-21/050.php – último parágrafo). Em outras unis de Baden-Württemberg, manifestações parecidas ocorreram. O blog neckarSTUDENT fez uma vídeo-reportagem a respeito:

E a CampusTV Tübingen não poderia ficar de fora. Infelizmente não é possível “embeddar” o vídeo aqui, o jeito é clicar neste link e assistir à matéria, para a qual eu também fiz câmera. Assistam!

Entrevista com o reitor

Entrevista com o reitor para a CampusTV

Como brasileiro, não posso deixar de comparar os protestos daqui com aqueles dos quais já participei no Brasil. Me chamou a atenção o fato de não ter havido cantos de guerra por parte dos manifestantes na maior parte do tempo. O carro de som tocou umas músicas muito estranhas na maior parte do tempo, imagino que tenha sido drum n’ bass, que não é bem a minha praia. Os discursos ao microfone por parte dos responsáveis (tanto alunos quanto professores) foram mais contidos, sem aquele clima de comício. Claro, sem falar na falta de provocações e porradaria com a polícia, que acompanhou a marcha bem discretamente. Lembro de ter visto uns dois ou três policiais, sem cacetete ou escudo na mão e sem ter a seu lado um ameaçador pastor alemão (que aqui na Alemanha é chamado apenas de pastor). Tudo muito harmônico e organizado, nenhuma bomba de gás lacrimogêneo nem provocações. Ai, ai, aqui na Europa, até protestar é mais chique e organizado, sem a maloqueiragem que há no Brasil! (ironia, ok?)

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3 Comentários

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3 Respostas para “Protestos por mais recursos para as universidades: na Alemanha também tem

  1. João Ricardo

    Parece-me contraditório que em um estado governado por uma coalizão formada pelos partidos Verde e Social Democrata que possuem um viés mais orientado á educação publica e gratuita, haja restrição de gastos na educação. Alguma explicação para tanto ?

    • A velha história de sempre: quando se chega ao poder, se percebe que o dinheiro não dá para tudo que se quer. É só lembrar do governo Tarso e seus atritos com a classe dos professores.

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