Mais uma reportagem traduzida, dessa vez um texto tirado da Unispiegel, revista voltada para o público universitário da Der Spiegel. Confiram.
Tübingen ao invés de Berlim: estudar em Baden-Württemberg é melhor
Por Jan Friedmann (texto) e Julia Busch (ilustrações)
Em nenhum lugar na Alemanha há uma taxa de desistência tão pequena quanto nas universidades do sudoeste. (Foto: Spiegel Online)
Ok, Berlim é mais bacana do que Stuttgart ou Tübingen. Mas em se tratando de ensino universitário, o sudoeste ganha. As universidades têm mais dinheiro do que em outros lugares, os alunos têm um acompanhamento melhor – e a taxa de desistência entre eles é menor.
O sol da tarde brilha através das grandes janelas do magnífico salão do palácio do governo em Stuttgart enquanto o ministro-presidente (equivalente a governador) do estado de Baden-Württemberg Winfried Kretschmann se permite um pouco de auto-elogio. Ele diz estar feliz de poder cumprimentar tantos “professores de destaque” nesta noite. O termo combina com a situação, já que “a política educacional aqui também é de destaque”. Para Kretschmann, uma frase do grande reformador educacional prussiano Wilhelm von Humboldt ainda se aplica: “Os bem-estudados são a classe humana mais difícil de dominar e de satisfazer”. Os professores universitários presentes dão risada e ele vai para a sala anterior, onde um suntuoso buffet com filé bovino e Spätzle espera.
Uma boa atmosfera impera na recepção do governo estadual para o Conselho Científico – o que não se deve apenas às palavras de Kretschmann e à boa refeição. Todos eles concordam: em Baden-Württemberg, os bem-estudados e aqueles que querem sê-lo estão um pouco melhor do que no resto da república. Ao contrário do que outros países fazem, a coalizão verde-vermelha (Partido Verde + Partido Socialdemocrata) em Stuttgart colocou as universidades no centro de seus esforços políticos – e quer agora desembolsar ainda mais dinheiro para elas. As universidades deverão receber mais 1,7 bilhões de euros nos próximos cinco anos. Muito dinheiro, com o qual o governo do estado pretende criar 3.800 novos postos de trabalho e reformar prédios universitários em más condições.
Melhor assistência ao aluno –
Número de estudantes por docente:
Baden-Württemberg: 5
Média geral da Alemanha: 7,1
Fonte: Statistisches Bundesamt (Escritório Nacional de Estatística), 2013
Tudo isso vai alavancar ainda mais o panorama do ensino superior na Suábia e em outros lugares na Ländle (“terrinha”, apelido usado para a região), embora ela já esteja muito à frente nos indicadores-chave. Baden-Württemberg investe per capita em seus universitários mais do que qualquer outro estado alemão – e paga os mais altos salários para professores universitários. Além disso, há mais universidades de elite e pólos de excelência.
Tudo isso, obviamente, deixa os estudantes satisfeitos. Em nenhum lugar na Alemanha há uma taxa de desistência tão pequena quanto nas universidades do sudoeste, nas quais incluem-se, por exemplo, Tübingen, Heidelberg e Freiburg.
A perseverança também vale a pena considerando-se a carreira posterior: em nenhuma outra região da Europa uma maior proporção da produção econômica é investida em pesquisa e desenvolvimento, em nenhum outro lugar trabalham proporcionalmente tantos profissionais em indústrias com foco em pesquisa.
Baden-Württemberg não poderia continuar a progredir só por causa da injeção de dinheiro. Isso porque em 2017 acaba a chamada Iniciativa de Excelência do governo alemão, que trouxe muitos recursos para as universidades. Os horários de abertura da biblioteca, o número de tutores disponíveis para os calouros, as disciplinas oferecidas a todos: tudo isto dependerá no futuro do poder financeiro de cada estado.
Estados mais pobres como Bremen e Saarland já precisam economizar em algumas faculdades e cancelar cursos. Para piorar, a partir de 2020 até o chamado freio à dívida (Schuldenbremse) entra em vigor, o que proibirá os estados de fazer novos empréstimos.
Maiores salários dos professores (observação: “Professor”, em alemão, é um título à parte, concedido àqueles que concluem sua Habilitation, espécie de pós-doutorado):
Baden-Württemberg: 6453
Média geral da Alemanha: 5804
Salário-base bruto em Euro Fonte: Associação de Universidades Alemãs (Deutscher Hochschulverband), abril de 2015
Como Baden-Württemberg tradicionalmente vai bem e atualmente as finanças estão mais saudáveis do que nunca, a secretária de Ciência, Pesquisa e Arte de Baden-Württemberg Theresa Bauer (Partido Verde) não tem tido dificuldade para obter recursos para a sua pasta. Isso, obviamente, agrada também a Associação de Universidades Alemãs (Hochschulverband), que a elegeu Secretária de Ciência do Ano pela segunda vez em quatro anos.
Os reitores no sudoeste saudaram-na, afirmando que a secretária teria a capacidade de “dar voz às preocupações legítimas da ciência”. Hans-Jochen Schiewer, reitor da Universidade de Freiburg e presidente da Conferência de Reitores das Universidades do país, vê Baden-Württemberg como “um modelo para a ciência e a política de ensino superior na Alemanha”.
O que acontece com o dinheiro novo?
“Os alunos são os principais beneficiários da nossa política, pois nós fortalecemos as bases das finanças das universidades”, diz a aclamada secretária, enquanto se senta em um sofá de couro preto em uma sala ao lado do Parlamento. Com o dinheiro do estado, não apenas novas cátedras poderão ser criadas, como também centros de dados, aconselhamento estudantil e bibliotecas poderão ser reforçados – as universidades poderão decidir por conta própria o que fazer com o dinheiro. Esta injeção de dinheiro vai certamente “afetar diretamente a qualidade dos estudos”, diz Bauer.
Taxas de desistência universitária menores
Baden-Württemberg: 18%
Média geral da Alemanha: 28%
Dados referentes à graduação (Bachelor), 2012
Fonte: Secretaria de Ciência, Pesquisa e e Arte Baden-Württemberg
No entanto, representantes estudantis têm críticas. É muito bom que o governo do estado invista dinheiro extra, diz Lukas Schulz, porta-voz da União dos Estudantes do estado. No entanto, ele afirma que os estudantes universitários não estão mais sendo consultados na distribuição dos fundos. Schulz, 21 anos, está no sexto semestre de Ciência da Computação na Universidade de Stuttgart, e demanda “mais transparência” sobre a utilização dos fundos. Ele teme que as universidades poderão privilegiar áreas de pesquisa que dão prestígio – e deixar o ensino de lado.
Bastian Kaiser, presidente da Conferência de Reitores Universitários do Estado de Baden-Württemberg vê no contrato de financiamento das universidades acima de tudo “um exemplo de comunicação política bem-sucedida”. Segundo ele, a infusão de dinheiro é “boa, mas não tão boa quanto vem sendo apresentada”. Isso porque na quantia bilionária estão incluídas somas que as universidades já haviam recebido anteriormente como parte de programas especiais. Mesmo assim, ele e seus colegas poderão transformar contratos temporários em vagas permanentes, o que por si só já é mais do que poderia ser feito em outros estados.
Diário de Tübingen 