A oposição no Brasil: guinada á direita com bíblia, bala e boi

Trago a vocês hoje um texto do jornal Die Tageszeitung, de Berlin, sobre a ultraconservadora oposição política brasileira, em especial a chamada “bancada BBB”: Bíblia, Bala e Boi. A autoria é do correspondente do taz na América do Sul Andreas BehnO texto foi publicado dia 23/04, mas por falta de tempo, só agora consegui traduzi-lo. Pretendo seguir traduzindo artigos sobre o Brasil que saiam na mídia de língua alemã para publica-los aqui, inaugurando assim a tag Brasil na Mídia. Assim vocês podem saber um pouco sobre o que sai sobre o Brasil na imprensa daqui e eu treino meus dotes de tradução. Que tal? Vamos ao texto então:

Guinada à direita com Bíblia, Bala e Boi

Proibição total do aborto, restrição do direito penal, mais terra para os grandes latifundiários: o governo dá sinais de fraqueza e isso alegra os conservadores.

Será que os evangélicos irão governar em breve? Se Deus quiser. Fonte da imagem: Reuters/taz

RIO DE JANEIRO taz | BBB é a abreviação da bancada que tem a intenção de girar para trás a roda da história no Brasil. Até então, a sigla BBB significava Big Brother Brasil, o bem-sucedido programa de TV para fãs do voyeurismo. Agora esta sigla vem causando furor como a chamada “Bancada Bíblia, Bala e Boi”.

Trata-se da aliança sinistra dos evangélicos e outros religiosos defensores dos valores familiares tradicionais com a polícia e ex-soldados que acreditam na lei e na ordem pela força das armas. Além disso, os latifundiários, que querem aumentar o lucro da agricultura industrial em detrimento do meio ambiente, dos indígenas e dos pequenos agricultores.

O primeiro grande projeto desta bancada já tem a bênção da Comissão de Constituição e Justiça do Parlamento: diminuir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Durante 20 anos, esta iniciativa do legislativo rondou os corredores do Congresso, mas até então sempre pôde ser bloqueada por deputados progressistas.

Muitos a consideram inconstitucional. Defensores dos direitos dos jovens e a ONU temem que através dessa medida populista, as prisões brasileiras, com as suas condições intoleráveis, ficarão apenas mais lotadas ​e contribuirão ainda menos para uma ressocialização. Agora, o projeto espera votação da Câmara dos Deputados e do Senado.

Outras iniciativas legislativas estão em espera. A bancada da tolerância zero quer proibir a possibilidade de penas alternativas à prisão e flexibilizar ainda mais as já frouxas regras sobre a posse de armas. A bancada da bíblia pretende aprovar um estatuto familiar que barraria a igualdade de direitos dos casais homossexuais.

Com 40 por cento dos votos

O aborto legal, que só é possível em casos específicos (estupro ou risco de morte para a mãe), também deve ser proibido. E uma emenda constitucional pretende transferir ao Congresso a demarcação de áreas protegidas indígenas. Ativistas de direitos humanos temem que a quantidade de terra cultivável seria ampliada à custa de reservas e da preservação da natureza.

De acordo com a deputada Erika Kokay, do Partido dos Trabalhadores (PT), não se trata de apenas um casamento de conveniência. “Todos os três setores compartilham a mesma ideologia ultra-conservadora. Eles estão preocupados com a aplicação de um modelo patriarcal tradicional de sociedade. ”

Juntos, os deputados do BBB detém cerca de 40 por cento dos votos no Parlamento. Não é difícil para eles juntar maiorias em votações. Principalmente pois o evangélico pró-negócios Eduardo Cunha conseguiu angariar a presidência da Câmara. Embora pertencente ao maior parceiro de coalizão do PT, o partido de centro PMDB, ele pertence à oposição intrapartidária à presidente Dilma Rousseff e realmente gosta de dificultar a vida do governo e causar derrotas em votações no parlamento. Ele adorna sua agenda estritamente conservadora com iniciativas folclóricas. Assim, ele quer aprovar um “dia de orgulho hetero” no Brasil, a fim de colocar um “sinal contra a desenfreada heterofobia”.

O motivo para esses retrocessos contra diversas iniciativas progressivas dos últimos 12 anos de governo do PT não é apenas a guinada à direita nas eleições para o Congresso em outubro passado. A isso soma-se a fraqueza do governo reeleito de Dilma Rousseff. Uma crise econômica e escândalos de corrupção dão tanto trabalho a ela quanto uma oposição revanchista, que pede o impeachment da presidente, em uníssono com os grandes veículos de mídia e protestos conservadores.

Na falta de um perfil próprio, Dilma Rousseff aposta em coalizões para manter o poder – inclusive com partidos nos quais estão muitos dos deputados da bancada BBB.

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