Exposição mostra a história da Uni Tübingen durante o regime nazista

Confiram abaixo reportagem do jornal Schwäbisches Tagblatt sobre uma exposição que está rolando em Tübingen sobre um período negro da história da universidade. Tradução deste que vos fala. Fotos não me pertencem.

Exposição sobre a “universidade no Nacional-Socialismo” no castelo Hohentübingen

A universidade considera uma obrigação sua contribuir para o esclarecimento da história da universidade durante o regime nazista. A exposição “Pesquisa, Ensino, Injustiça” contribui para uma prestação de contas do passado e traz à luz a influência da ideologia nazista na pesquisa, no ensino e no estudo.

LORENZO ZIMMER

Tübingen. Em meio a esculturas de gesso no grande salão do Museu da Universidade no castelo Hohentübingen seis cubos pretos encontram-se abertos ao público. Dentro deles: os anos negros, os anos marrons*  da ciência e do ensino em Tübingen. A exposição é dividida em seis temas principais. Ernst Seidl, diretor do museu, inaugurou ontem à noite (21/05) a exposição com o título “Pesquisa, Ensino, Injustiça. A Universidade Tübingen no Nacional-Socialismo”.

Em um dos seis cubos, o “reitor-Führer” Herrmann Hoffmann encara os visitantes com semblante sério e vestindo o uniforme da Sturmabteilung. À direita, sua máscara mortuária. Fotos: Metz/Schwäbisches Tagblatt

“Os cubos escuros simbolizam a escuridão, na qual o visitante pode mergulhar ao se inteirar da temática”, diz Seidl sobre o conceito da composição. Além disso, eles estão virados 12 graus em direção ao eixo central do salão retangular – doze anos foi o tempo que durou o reino de terror dos nazistas. “Quando alguém está em um dos cubos, a pessoa sente-se orientada, mas o alinhamento em relação ao resto do salão está torto”, diz Seidl. Isso também combina com os acontecimentos no Terceiro Reich. Cada um dos seis cubos é dedicado ao seu próprio tema e no geral os objetos expostos compõem um panorama assustador, da cooptação da universidade e da sua integração na hierarquia nazista. “Essa exposição é muito ousada devido à complexidade do tema”. Assim descreve Seidl as reflexões e dificuldades durante os preparativos. A exposição acompanha as palestras do Studium Generale**, juntamente com a exposição sobre a pesquisa racial-biológica de Hans Fleischhacker e uma série de filmes no cinema Kino Museum em Tübingen.

Ideologia racial estava presente em todas as disciplinas

No primeiro cubo, que trata da estrutura e organização da universidade entre 1933 e 1945, o “reitor-Führer” Herrmann Hoffmann encara os visitantes com um semblante sério. Retratado em uniforme da Sturmabteilungmilícia paramilitar nazista, ele ostenta uma braçadeira com suástica no braço. Apenas a opulenta corrente em seu pescoço, usada pelos reitores, denota sua função universitária. Hoffmann não chegou ao cargo em 1937 através de eleições. Graças à sua fidelidade partidária, foi nomeado reitor da universidade pelo ministro da ciência do Reich.

Usando pombas empalhadas e maiores do que o normal, zoólogos de Tübingen tentaram transferir teorias racial-biológicas ao reino animal.

Nos segundo, terceiro e quarto cubos, que tratam das ciências exatas, humanas e estudos culturais, além do ensino em geral, fica claro o quanto a compreensão ideológica de raça e povo tomou conta do cotidiano do ensino e da pesquisa na universidade. No Instituto de Pré-História e Proto-História os pesquisadores tentaram provar que a cultura germânica foi a primeira do mundo a ser altamente desenvolvida. Na Zoologia, foram procurados traços que denotavam a supremacia natural entre uma espécie animal e outra (de acordo com a concepção humana dos nazistas). Todas as disciplinas científicas estavam submetidas à ideologia. “Na verdade, para os professores, era uma questão de conseguir incentivos financeiros, que só eram concedidos a projetos que estavam de acordo com uma certa visão de mundo”, explica Seidl. No quinto cubo, uma longa lista, reconstruída dos livros de cadáveres da Anatomia, lembra das vítimas dos campos de trabalho forçado e prisioneiros de guerra que foram transferidos para a universidade. Alguns deles foram mortos de propósito, outros morreram congelados em campos de concentração ou devido a doenças e ferimentos. Por fim, a exposição documenta a prestação de contas do passado nazista após 1945 em um sexto cubo. A princípio, o passado foi reprimido e silenciado – somente muito tempo depois, a partir dos anos 80 e 90, é que praticou-se uma retrospectiva crítica do assunto. Também para isso deve servir a exposição, que mostra aos seus visitantes como a ideologia do “Führer” penetrou pelos corredores e chegou a cada sala de aula. “Essa prestação de contas é até hoje um projeto importante e não nos permite parar”, diz Seidl. Duas exposições

As exposições “Nas mãos de Fleischhacker“ e „Pesquisa, Ensino, Injustiça“ ocorrem paralelamente no Museu da Universidade e acompanham as palestras do Studium Generale. A exposição sobre o antropólogo Hans Fleischhacker segue até 28 de junho, enquanto que a exposição sobre a universidade no Nacional-Socialismo vai até 13 de setembro. (Horários de abertura: Segunda/Sexta – Domingo das 10 às 17 horas, Quintas das 10 às 19 horas).
*”Marrom” aqui é uma referência à cor do uniforme nazista

**Studium Generale são séries de palestras da Uni Tübingen abertas ao público sobre os mais variados assuntos. A lista completa de palestras deste semestre pode ser encontrada aqui: https://www.uni-tuebingen.de/aktuelles/studium-generale.html PS: A Spiegel Online também publicou uma reportagem sobre a exposição: http://www.spiegel.de/wissenschaft/medizin/ns-forscher-hans-fleischhacker-dokumentation-in-tuebingen-a-1031558.html. Sobre o pesquisador e antropólogo Hans Fleischhacker, à época professor universitário, pode ser lida uma reportagem que saiu na edição impressa da revista Der Spiegel em maio de 1972, quando o mesmo foi impedido de dar uma palestra na Universidade de Frankfurt graças aos protestos dos alunos: http://www.spiegel.de/spiegel/print/d-42929334.html

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